17 agosto 2010

Itabuna Quer Mamar


Estudos arqueológicos dizem ser Tiahuanaco, na Bolívia, a cidade mais antiga do mundo, com aproximados 16 mil anos de idade. Algumas outras, como Damasco, na Síria e Biblos, no Líbano, são habitadas continuamente há mais de 5 mil anos. Sociedades milenares, dando-nos uma ideia de quão extensa pode ser a existência de determinada cultura ou pólis. Tais dados nos servem também para esboçar um ciclo vital referente às cidades. E, a despeito dos processos de aculturação por que passa todo povo, do seu dinamismo cultural, podemos entender que há cidades velhas, adultas e jovens. Nessa escala, uma cidade como Itabuna, ao completar 100 anos, é um bebê de colo.
Estudos arqueológicos dizem ser Tiahuanaco, na Bolívia, a cidade mais antiga do mundo, com aproximados 16 mil anos de idade. Algumas outras, como Damasco, na Síria e Biblos, no Líbano, são habitadas continuamente há mais de 5 mil anos. Sociedades milenares, dando-nos uma ideia de quão extensa pode ser a existência de determinada cultura ou pólis. Tais dados nos servem também para esboçar um ciclo vital referente às cidades. E, a despeito dos processos de aculturação por que passa todo povo, do seu dinamismo cultural, podemos entender que há cidades velhas, adultas e jovens. Nessa escala, uma cidade como Itabuna, ao completar 100 anos, é um bebê de colo.
Então haveremos de perdoar todos os pecados de Itabuna, compreendê-los como gestos de um povo neófito, mirim, puro. Itabuna usa fraldas e não tem dentes, por isso há de se ter cuidados com o que come. É comum aos bebês se lambuzar, sujar o chão, deixar a água do banho encardida e, ao mesmo tempo sorrir debochadamente disso tudo. 100 anos é uma idade de ruas desorganizadas, motoristas irresponsáveis, gestores e comerciantes corruptos, poluição sonora, de bêbados, de rio Cachoeira lamacento. 100 anos é idade de descaso, de irresponsabilidade. 100 anos é idade de violência. Matar e não se saber que matou, morrer sem se saber morrendo.
Fernando Caldas, às vezes, irrita-se com Itabuna, e passa a criticar as pessoas, chamando-lhes de estúpidas, oportunistas, dinheiristas, fúteis e tal. Pobre Fernando que não compreende as palavras do mestre Jesus que nos pedia que censurássemos as obras, e não seus autores. Itabuna balbucia, não sabe falar, nem andar direito sabe. Por isso não temos livrarias, porque Itabuna não sabe ler. Por isso temos esses carros incrementados explodindo canções a todo volume, parados à porta dos bares. Bebês adoram percepções sonoras intensas. Por isso temos esses rapazes e moças seminus, roçando-se publicamente. Fase oral, anal e genital, e só. Assim são os bebês. Puro prazer, sem superego. Bebês também adoram conforto e afago, e assim nossas igrejas estão tão repletas. Bebês passeiam nas procissões e nos cultos, tudo é novidade. Se passam aviões, soltando fumaça nos céus, Itabuna corre para ver, aponta dedos, emociona-se. Se inauguram uma nova loja, um novo restaurante, Itabuna penteia os cabelos, faz as unhas e vai conferir, e leva semanas comentando. Tudo é maravilhoso aos olhos da criança. O velho mundo parece um ovo.
Itabuna vai crescer. Daqui a nove séculos será um adulto. Antes, chegará a hora de ir à escola, colocar a farda, iniciar o processo de disciplina. Quem serão os educadores de Itabuna? Ah, só fico pensando quando Itabuna aprender a gostar das artes, começar a comprar livros, a entender de cinema, de dança, a frequentar teatros. Suponho uma Itabuna adolescente e criativa, ávida por conhecimento, científica, filosófica. Paciência... Por hora, não passamos de um bebê chorão, querendo o leite dos peitos da mãe.
Minha avó, ao chegar à Itabuna, na década de 1930, assustou-se com o número de homicídios diários. Todos os dias passava um morto pela rua, dentro de uma rede. Era um tempo de coronéis, de patentes compradas. Passados 80 anos, os corpos seguem no rabecão da Polícia Civil. Temos paisanos de patentes compradas. Mas, o bebê está coçando a gengiva. Parece que vem aí o primeiro dente. Isso me enche de esperança, porque sobre nós brilha o mesmo céu de Tebas, a mesma Lua de Pequim.

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