18 outubro 2009

Fernando Caldas Canta Raul Seixas


 

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09 setembro 2009

Os Bebedores de Cerveja


Textos precisam ser repetidos. A verdade dita muitas vezes também se espalha e é aceita. Os inteligentes devem despertar. Deles dependem os demais. O futuro se desenha nos inteligentes. Eles farão a travessia da humanidade, não os outros. Sempre foi assim. Os homens não são amorfos e indistintos. Temos muitos sabores. Retire desse bolo um Platão, um Newton, e voltamos à Idade da Pedra. Poucos saberiam recriar o mundo. Falemos sobre o consumo de álcool.


Textos precisam ser repetidos. A verdade dita muitas vezes também se espalha e é aceita. Os inteligentes devem despertar. Deles dependem os demais. O futuro se desenha nos inteligentes. Eles farão a travessia da humanidade, não os outros. Sempre foi assim. Os homens não são amorfos e indistintos. Temos muitos sabores. Retire desse bolo um Platão, um Newton, e voltamos à Idade da Pedra. Poucos saberiam recriar o mundo. Falemos sobre o consumo de álcool.

Textos precisam ser repetidos. A verdade dita muitas vezes também se espalha e é aceita. Os inteligentes devem despertar. Deles dependem os demais. O futuro se desenha nos inteligentes. Eles farão a travessia da humanidade, não os outros. Sempre foi assim. Os homens não são amorfos e indistintos. Temos muitos sabores. Retire desse bolo um Platão, um Newton, e voltamos à Idade da Pedra. Poucos saberiam recriar o mundo. Falemos sobre o consumo de álcool.
Álcool é assunto maldito. Todos bebem, logo, não se discute. Argumentos em favor do álcool são frágeis. Aludem a amigos, alegria, festa, comunhão. O álcool é a droga mais consumida. A cerveja, a bebida alcoólica mais utilizada, assim, a cerveja é responsável pelos altos índices de criminalidade e de mortes. A cerveja altera o comportamento. O processo é químico, não romântico.
Dizer que a cerveja integra pessoas é supor que os urubus interagem nos lixões. Dezenas de seres bêbados não valem um único ser são. Mas os homens fogem da lucidez. Têm dificuldade de sair do estado infantil, tratam a vida como um jogo, uma brincadeira. Vivem entre mentiras. Justificam o consumo de álcool pelo niilismo. Numa lógica em que Deus fracassou, fracassaram ideologias, amores não vieram, restando o álcool. Porém, estranhamente, os bebedores, se brasileiros, são apaixonados e crentes, não abrem mão da motriz antropológica. Afirmam beber por espontânea vontade. Falam do exercício da liberdade. Falam de felicidade. A cerveja liberta, somos um país de homens livres. Um país de homens felizes. Somos?
O capítulo das mulheres é mais drástico ainda. Elas bebem como os homens, mas o álcool lhes causa efeitos mais penosos. Nas mulheres, o álcool é metabolizado de forma diferente. Como elas possuem menor quantidade de água no organismo, então, o álcool é menos diluído, o que potencializa seus efeitos. Elas também registram uma quantidade menor das enzimas (ADH gástrico) responsáveis pela quebra e neutralização do álcool para a corrente sanguínea. Nas mulheres, a maior parte do álcool vai direto para o fígado.
A Organização Mundial da Saúde (2005) afirma: mulheres que bebem cerveja há aproximadamente vinte anos, em 100% dos casos, possuem lesão no fígado. E se, nesse mesmo período, o consumo médio foi de seis garrafas de cerveja por semana, então, as chances dessas mulheres desenvolverem cirrose hepática será de 50%. As mulheres bebedoras sofrem de uma série de sintomas físicos: dor de cabeça, cansaço, enjôo, irritabilidade, ansiedade, visão dupla, perda gradual de memória etc. Para a OMS (id), mulheres que bebem há mais de dez anos são dependentes. Um único mês sem o uso do álcool as faz “experimentar desconforto emocional, ansiedade, confusão mental, tremores e insônia”. Ao atingir o cérebro, o álcool destrói os neurônios – que são células que não se regeneram. Necrópsias realizadas com bebedores de cerveja detectaram que eles tinham cérebros menores, se comparados a não bebedores. Análises subseqüentes revelaram que os cérebros dessas pessoas regrediram em massa. Entre outros efeitos danosos, a cerveja também diminui o cérebro (Oxford, 1986) O álcool ultrapassa a placenta e atinge o feto. O líquido amniótico fica impregnado de álcool. Mulheres bebedoras comprometem seus filhos mesmo antes de concebê-los. (Revista Brasileira de Obstetrícia, 2001).
As bebidas liberam instintos. Bebida e sexo são um binômio, uma tautologia. Alguns estudos mostram que: 1. O uso de álcool dinamiza padrões psíquicos de baixa freqüência (Kabat-Zinn, 2006), ou seja, desperta os aspectos mais grosseiros da nossa natureza animal. Por outro lado: 2. A meditação desencadeia harmonias, inclusive curas. Mas quantos meditam? Os evangélicos talvez estejam certos: o álcool ascende os demônios adormecidos, os padrões abomináveis da nossa estrutura gênica. O arquétipo de Sodoma e Gomorra tomou conta dos nossos dias. Doutos, executivos, garis, mendigos, políticos, artistas, trabalhadores e desocupados compõem esse grande ritual dos bebedores de cerveja. Uma maçonaria de linguagem própria, discriminadora dos sóbrios.
O corpo é o templo que nos foi dado para passar o tempo. As pessoas cuidam melhor de seus carros e de suas casas do que de seus corpos. Se o corpo é o veículo, o motorista é a mente. A nossa capacidade mental é sempre limitada pela qualidade do corpo. Um veículo doente, refém do álcool, será muito difícil de ser conduzido, por melhor que seja a mente. Chico Buarque diz, numa de suas letras, que “Sem a cachaça ninguém segura esse rojão”. Imaginemos, literalmente, um bêbado segurando um rojão! (...) A verdade é inversa. Não são fatores exógenos os principais vetores dos vícios (Messas, 2005), mas conformações da cromátide. Portanto, Chico Buarque et.al. não bebiam por conta da ditadura militar, se assim o fosse, cessariam de beber a partir da abertura política. Citar um famoso nos conduz a outra constatação: muitos bebem imitando ídolos. Jovens idolatram Raul Seixas e, por adorarem suas canções, reproduzem também o comportamento do homem para além do mito.
Esses poetas, pintores, filósofos e músicos beberam por ignorância e contingência. Não era necessário que bebessem. Produziriam uma obra mais elevada se despertos. A partir da segunda metade do século XX, bebe-se inspirado na tradição intelectual européia, no ceticismo do pós-guerra, no existencialismo ateu. Muitos universitários começaram a beber álcool, a freqüentar bares, a ser sensualistas e a sofismar, inspirados por franceses. Tudo imitação, metonímia, falta de inteligência. Se Marx: álcool; se Joyce:álcool; se amores: álcool; se fofocas: álcool; se Flamengo: álcool. Álcool na tristeza, álcool na alegria, álcool todo dia, todo dia álcool. Porém, a introdução do álcool na dieta humana comprometeu a espécie toda.
Em 1984, Mourr & Benson demonstraram que nos bebedores de cerveja as sinapses realizam menores operações e com menor eficácia. Quem bebe cerveja dança, ri, fala pelos cotovelos e goza muito. Mas tem o cérebro menor. Pensa menos. Pensando-se menos, bebe-se mais. Bebendo-se mais, pensa-se menos e bebe-se mais,... Inútil samsara.
Há, entre os bebedores, uma classe que acumula um problema adicional. São os professores. Neles, recai uma questão: como educar jovens e, ao mesmo tempo, beber, grunhir, agir alucinadamente? Não me refiro aos aspectos de ordem moral, mesmo porque ninguém mais se importa com nada disso, a maioria dos pais e mães também bebem e, muitas vezes, junto aos filhos. O caos se instaurou - vivemos o Kali, o Tempo da Noite Negra. Refiro-me à Voz que nos sopra à consciência e que representa o Ser (nossa essência), ante o Nada (nossa cultura). Refiro-me à Ethos, que deveria nortear o educador numa escala centrífuga.
O processo pedagógico é infinito, toda aula é uma prelibação, um ato de fé. Enquanto cá estivermos, manifestos, perseguiremos o ideal da construção de uma sociedade mais evoluída. Magistério e drogas não combinam. Ou um ou outro. Essa Noite, que há séculos nos atormenta, vai passar. O homem é um projeto. Sua carne e sangue ainda se confundem com o chimpanzé. Uma longa jornada remissiva à nossa condição oceânica nos aguarda. O professor precisa ser exemplo, precisa explicar para os seus alunos as coisas desse mundo. Ensinar-lhes sobre as cruéis leis do comércio, sobre os vendedores de sonhos, sobre homens que exploram homens e animais, sobre um tempo em que a propaganda leva milhões aos bares, e sobre o lucro das grandes empresas que fabricam certos líquidos amargos, destilados ou fermentados, induzindo todos a bebê-los, ficarem doentes, débeis, e ainda pagarem por isso. Toda maiêutica há de ser lúcida. Ensinar é uma função dos professores, de ninguém mais. Quem somos os professores, entretanto?

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03 setembro 2009

Advogados


Advogados são bonitos. São elegantes. Vestem-se com o mais puro linho e são convenientes. Riem na hora certa. Raramente choram. Freqüentam os melhores salões de beleza. Não medem esforços para a elegância. Sapatos lustrados. Ornamentos em ouro. Advogados são bonitos. Andam de cabeça erguida. Pastas repletas. Pensamentos concêntricos. A minuta. A procuração. O habeas-corpus. A inflexão na ponta da língua. O lenço. O suor perfumado. O automóvel metálico. A casa de praia. O churrasco. Os amigos advogados.

Advogados são bonitos. São elegantes. Vestem-se com o mais puro linho e são convenientes. Riem na hora certa. Raramente choram. Freqüentam os melhores salões de beleza. Não medem esforços para a elegância. Sapatos lustrados. Ornamentos em ouro. Advogados são bonitos. Andam de cabeça erguida. Pastas repletas. Pensamentos concêntricos. A minuta. A procuração. O habeas-corpus. A inflexão na ponta da língua. O lenço. O suor perfumado. O automóvel metálico. A casa de praia. O churrasco. Os amigos advogados.
Advogados adoram discutir política. Falam de senadores, deputados e presidentes de forma íntima. Utilizam um maravilhoso vocabulário. Expressões latinas, português clássico. Gastam quinhentas linhas para dizer que o réu é culpado. Mas também gostam de futebol, assinam a Veja, periodicamente vão a motéis. Pagam com cheque ou cartão, expostos em trabalhadas carteiras de couro. Advogados preferem jantar em restaurantes, onde falam de negócios. Contam piadas. Narram o caso do cliente burro. Dos cinco mil dólares a mais. Da procuração de mão beijada. Do vídeo-laser penhorado. Depois, arrotam discretamente e vão ao toalete. Lavam as mãos. O rosto. Corrigem o penteado.
Advogados multiplicam-se. A cada ano. A cada dia. Crianças se preparam. Adolescentes freqüentam tribunais. Vestibulandos anseiam. Eles sabem-se superiores. Olham em volta e é só mediocridades. Por isso são contidos. Falar muito só entre os iguais. Preferencialmente silenciar, ante a estupidez. Advogados assistem avidamente aos noticiários da televisão. Embora já compreendam todos os processos do sistema. Mas é preciso dados, subsídios, inferências novas. Sonhar com litígios homéricos. Ocupar funções públicas vitalícias. Passar pelas ruas, observando o olhar respeitoso dos demais. Ser chamado de doutor. Tirar dúvidas. Apresentar soluções. Memorizar códigos inteiros. Dar aulas. Corrigir provas. Conferir o saldo bancário. Sutileza. Perspicácia. Higiene.
Moças também sonham em ser advogadas. Por isso estudam, alucinadamente. Decoram as fórmulas de Química inorgânica, treinam análise sintática, matriculam-se em mil universidades. Em quatro anos, saltos altos, cruzarão os corredores do fórum. Mãos repletas de papéis. Apressadas. Apertando botões. Computador e celular. O noivo correto. Advogado. Amigos gentis. Conversas mornas. Vinho branco e Caetano no CD. Que viver é isso mesmo, e as injustiças estão aí. Advogados se alimentam delas. Advogados se alimentam e engordam. Criam barriga. Celulite. Votam com correção. Acreditam na democracia. Dão palestras em clubes de serviços e vão dormir em paz.
Seria bom se todos fossem advogados: Garis, Professores, Poetas, Domadores de leões. Um mundo jurídico, sob gravatas e petições... Infelizmente, porém, longe disso estamos. O que vemos é um planeta irracional. Banalizado. Cru. O que assistimos são cantares de filósofos, pobres. Incomensuravelmente pobres. Discursando o absurdo. Inutilmente, divagando sobre absoluto, existência, Deus e caos. Buscando origem e fim, assustados com a fome da criança. Com o velho roto, caído. Gastando horas a fio sobre livros caducos, em trajes vergonhosos. Filósofos não têm função. São luxo. Afinal, a vida prossegue igual, mesmo que não pensemos nela. Por isso não se pode perder tempo. Tudo é rápido. A morte vem breve. Não há espaço para as loucuras de Platão, as alucinações de Nietzsche, o pensamento desconexo de Foucault. É preciso ganhar-se muito dinheiro. Literatura é lazer... Advogados têm plena consciência de tais verdades. Lamentam que ainda existam tolos. Mas nada podem fazer a respeito. Precisam casar-se. Ter filhos. Patrocinar-lhes educação, coloca-los em escolas caras, para que cresçam e possam ser alguém. Compreendem, que basta cada um cuidar de si mesmo e a ordem não tardará a vir. A vida é para ser realizada e não pensada. Determinação é a palavra. Ambição é a palavra. Trabalho é a palavra.
Filósofos ainda amam o mistério. Ainda gastam horas num pôr-de-sol. Fazem versos, ainda. Preocupam-se com ética e moral. Querem ser felizes. Antes, porém, a cultura- suas doze caras, a dúvida. O pecado. Filósofos são pecadores, essencialmente sujos e descartáveis. Pés na lama. Quase tocam o céu. Ilusão... Advogados passam sandal no rosto e vão ao Arraial d’ajuda. O mundo nas mãos. Filósofos ficam na chuva. Úmidos e sós. Contando as estrelas. Observando o caminhar das formigas. Um mundo só de filósofos não passa por sua cabeça; passam abstrações, esperanças miúdas, paixões possíveis. Os rios poluídos e os bichos extintos habitam sua alma. O fogo que queimou Giordano. As chagas do Cristo. O veneno do grego parteiro. Alvoroço, alegria e dor o compõem. Vinte e quatro horas por dia, trina o seu coração.
Advogados são prolixos. São espertos. São horizontais. Nascem advogados. Quando crianças, exigem mesada. Têm sempre à mão, a maior fatia do bolo. Para que possam rir dos que comeram pouco. Rir dos outros meninos que ficaram sem comer.

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20 junho 2009

O Chá de Cima – Breve Reflexão Sobre Drogas e Espiritualidade

Há uma palavra nefasta chamada alienação. O processo em que a consciência se torna estranha a si mesma, afastada de sua real natureza (HOUAISS, 2008). Uma anulação da personalidade do sujeito. A alienação se dá tanto material - como consequência da produção de um objeto alheio àquele que o produziu-, quanto psiquicamente, na tendência humana em encontrar soluções artificiais aos seus anseios. Pode ser moderada ou atingir a extremos, tornando-se neuromental, comprometendo a logicidade. Muitos pais alienam seus filhos, impondo-lhes programações condicionadas, fazendo-lhes adeptos deste ou daquele princípio. Como diz Edith Sitwell, poetisa inglesa, “As pessoas acreditam em qualquer coisa, desde que não esteja fundamentada na verdade”. E é isso mesmo. Há muitos anos comprovo esse paradoxo em sala de aula, com meus alunos. Muitos, mesmo sem ter estudado uma linha para a avaliação, rezam e pedem ás “forças supremas” que os aprovem. Outros, correm alucinadamente em seus carros e motos, porém, carregam fitinhas do Senhor do Bonfim e se sentem protegidos. Nesse velho mundo, quase ninguém acredita ou usa a razão. Entretanto, é a razão que nos faz humanos.

O homem sempre buscou a transcendência. A história é um mar de supersticiosos, pincelada por pequenos arquipélagos racionais. Se tirássemos alguns gregos antigos, alguns filósofos modernos e alguns cientistas contemporâneos da face da terra, restar-nos-ia a mais caótica barbárie. A inteligência, mesmo sendo repartida entre todos, não é por todos utilizada. Existem três níveis de transcendências (HUXLEY,1978): 1. Transcendência Ascendente, 2. Transcendência Descendente e 3. Transcendência Horizontal. A transcendência ascendente é aquela proposta pelos espiritualistas orientais, pelo bramanismo, pelo budismo, taoísmo, pela cabala, pela teosofia, pelos rosacruzes, pelos sufismo, pelo cristianismo, dentre outros. Trata-se de uma preparação para que se atinja um estado absoluto de mente, chamado de Nirvana, Reino dos Céus, Satori, Percepção Oceânica, Consciência Cósmica ... Com tal propósito, escolas se ergueram, durante milênios, atraindo muitos discípulos. Uma série de sacrifícios e iniciações foram realizados, e décadas de estudo e testes, na maioria das vezes, não possibilitaram ao estudante a Iluminação. Pois Iluminar-se também significava evoluir eticamente, desenvolver outras instâncias do corpo, dissolver-se, eliminar os egos que nos identificam nesse mundo e, principalmente, alcançar a maturidade psíquica para tal. Suas práticas não visavam qualquer prazer ou devaneio pessoal, mas a auto-aniquilação. A tradição diz que o Mestre só aparece quando o discípulo está pronto. Tal processo pode custar centenas de encarnações.

O método de transcendência horizontal consiste numa atitude de caridade, de esquecimento de si mesmo, num desenvolver de ações para o semelhante. Funciona mais como instrumento.


A transcendência descendente é o meio que muitos encontraram de alterar o estado de consciência, através de agentes externos, de alguma droga utilizada com o intuito de que o fiel alcance “espíritos”, “mestres”, “a si mesmo” ou “Deus”. A transcendência descendente é um atalho, um truque, uma mágica. Ela nada tem a ver com a espiritualidade. Trata-se de um fenômeno puramente químico, neurológico, uma experiência infrapessoal. Seja o LSD, o peiote ou a ayahuasca, em todos os casos, o indivíduo passa a sofrer uma dependência de ordem psíquica, fazendo com que ele não viva mais sem utilizar a droga. E, mesmo sendo um dependente psico-químico, ele não desenvolve remorsos ou culpas, pois as experiências alucinógenas geram um estado de epifania (sentimento do sagrado), já que se dão ritualisticamente, acrescidas de sugestões dogmáticas de “mestres” e “orientadores”. A transcendência descendente não tem vínculo com a ascensão espiritual verdadeira, é apenas um sarau voltado para o consumo de alucinógenos. Nenhum Iniciado verdadeiro jamais se utilizou desses meios, pois que droga alguma é capaz de acelerar a evolução. Ao contrário, atrofia-nos. Fotos Kirlian registram imagens da aura antes e depois do consumo de drogas. É impressionante como todo campo fluídico de pessoas em estado de alucinação desaparece (PSICENTER, 2008). É como se o uso de chás e outras substância psicotrópicas afastassem as forças divinas do indivíduo. Embora ele, sob efeito da droga, confunda prazer com espiritualidade.


Os estudos sobre os níveis de dependência de tais drogas “mágicas” devem observar as relações da oxitocina com o hipocampo e deste com o neocórtex, pois normalmente um dos efeitos de tais drogas diz respeito à memória. Se por um lado, conteúdos armazenados no Lobo Temporal e na Amígdala, sobretudo, podem se acessados via esses alucinógenos, também ainda não se sabe dos níveis de comprometimento dos neurônios, obrigados a disparar artificialmente inúmeras vezes, deflagrando contato com neurônios vizinhos. Os cientistas deixaram de mão investigações mais amplas sobre tais drogas, sobretudo porque, como diz Richard Dawkins (2007), as religiões gozam de privilégios absurdos da lei. Porém, quem estudar a história da cocaína verá que ela também já foi utilizada religiosamente por índios sul-americanos, e que até recentemente (início do século vinte), era prescrita como medicamento. O Papa Leão XIII chegou a abençoar o vinho de coca e Freud foi pago por industriais para difundir a cocaína. O médico austríaco publicou, então, “A cocaína é estimulante mental, para tratar de problemas digestivos, para aumentar o apetite, como afrodisíaco, para tratar asma, como um anestésico local e para ajudar os dependentes de álcool e morfina a se livrarem do vício”. Essa última afirmação é interessante, porque também, hoje em dia, os membros da União do Vegetal e do Santo Daime afirmam que o Oaska (que é o alucinógena que eles bebem) serve para “curar” viciados em outras drogas.

Esse é um ponto fundamental. Toda questão se resume à tendência que certas pessoas possuem para o vício. O atual estado de arte, nesse campo, onde predominam os estudos neurocientíficos demonstram que existem padrões hereditários determinantes na formação de um viciado, prontos a se desencadear à medida que certo favorecimento psicoemocional ocorra. Uns nascem para o vício, outros, não. Dentre os bebedores das chamadas “drogas sagradas” há um número significativo de ex-usuários de maconha, cocaína ou álcool. Houve apenas a substituição de uma droga por outra. O que tais indivíduos não conseguem é viver de maneira lúcida, sem dependências. “Deus”, “mestres”, “Salomão”, “forças de cipós”, são apenas pretextos, fantasias, imagens infantis. Existem simplesmente para justificar a excentricidade do novo vício. Os estudos sobre essas drogas “ritualísticas” são ultrapassados. Nos últimos cinco anos, as neuroimagens, a possibilidade do acompanhamento dos efeitos da droga no nível molecular e sua ação no SNC já são suficientes para demonstrar possíveis efeitos maléficos tanto da mescalina quanto da oaska no sistema humano. Devemos exigir de nossos políticos que pressionem o executivo para uma ação enérgica, nesse sentido.


O Dicionário de Termos Médicos – 2007, chama de alucinógeno, toda “Substância psicoativa, natural ou sintética, capaz de ocasionar alterações da consciência, normalmente caracterizadas por alterações sensitivas, com imagens percebidas que podem evoluir para ilusões e alucinações, alterações do humor e sensações de despersonalização ou desrealização”. Portanto, esses chás são alucinógenos mesmo. Eles atuam aumentando os efeitos das células de inibição do Sistema Nervoso Central, o poder ansiolítico. Ao bombardear o Sistema Nervoso Central com o oaska, a célula começa a reduzir os efeitos de inibição do sistema gabaérgico, ocorrendo a adaptação homóloga (específica para o oaska). Então, quando o oaska, uma segunda ou terceira vez bater na célula não terá mais o mesmo efeito ansiolítico. Então, o indivíduo precisará beber mais chá para manter o mesmo efeito. A célula criará uma defesa contra o oaska. E mais oaska será necessário. Como diz Rodrigo Bressan, “Uma vez desenvolvido o mecanismo de defesa celular, nós não sabemos como desativá-lo. Por isso que uma pessoa que desenvolve o vício permanece com o vício... Aquilo fica guardado no célula, fica na memória celular” (2004, Folha de São Paulo).


Essas drogas, utilizadas sob pretextos religiosos são uma espécie de vírus, semelhantes aos de computador. Só que “vírus da mente tendem a ser difíceis para suas vítimas descobrirem”, como diz Cronin (2002). Estudos recentes (2008), efetivados pelos doutores Palmira Morais e Luis Maia, da Escola de Medicina de Lisboa concluíram pela existência de um déficit cognitivo nas pessoas usuárias de quaisquer drogas, quando comparadas com aqueles que não utilizam substância estranha aos metabolismos naturais do corpo humano. Quer dizer, os usuários de alucinógenos vão ficando menos inteligentes com o passar do tempo. Para Lacan as drogas, ritualísticas ou não, constituem uma relação patológica de dependência do indivíduo com um objeto, um disfarce de algum problema psicológica de base. Tal objeto pode muito bem ser outra pessoa. Não é tão incomum vermos casamentos que se mantêm nesses termos, ou seja, através de uma vinculação patológica de dependência. Nesse caso, não temos uma relação propriamente, pois não há mais alteridade, mas um vício legítimo, retroalimentado, muitas vezes, até a velhice ou a morte.

Hoffman (2007) afirma que “alguns genes associados ao uso abusivo e à dependência de drogas psicoativas já foram identificados. Estudos genéticos revelam uma forte associação destes genes com o mecanismo de gratificação cerebral, ou circuito cerebral de recompensa, a via do sistema nervoso central responsável pela sensação de prazer, que reforça os comportamentos prazerosos, e inclusive o desejo de consumir drogas”. Os viciados, seja em cerveja, em maconha, em oaska, em cocaína, em mescalina, heroína, crack, tabaco etc, devem compreender que são doentes, hereditariamente doentes e, por isso, precisam se tratar, sair da roda-viva: fator hereditário, que gera dependência, que gera alienação, que gera convicções místico-religiosas, que geram mais drogas, que geram mais alienação, e assim por diante.

Felizmente, há outro substantivo, capaz de nos fazer superar qualquer nível de alienação. Trata-se da reflexão, que é a virtude de ponderarmos e meditarmos sobre tudo, dinamicamente, sem que emitamos conceitos de valor a priori. Ela é científica. A reflexão, dentre outras coisas, poupa-nos de sair por aí experimentando de tudo, porque nos dota do uso das faculdades cognitivas, capazes de, por inferências, conduzir-nos a sínteses muito mais apropriadas. O fato é que não necessitamos de droga nenhuma para que exerçamos nosso potencial de ser-aí. A vida não se resolve misticamente, através de mecanismos de fuga; mas, heroicamente, por meio do confronto com o cerne daquilo que nos aflige. Se as causas não cessarem nada se equaciona, não adianta carnaval, nem futebol, nem religião, nem “espíritos indígenas”, nem coisa alguma. Compreender que a vida é sofrimento é um passo fundamental, como sabiam Jesus, Buda e Platão, e todos os grandes Iluminados ascendentes, que jamais utilizaram drogas. O segundo passo consiste em vencermos o sofrimento, enfrentando-o, e não fugindo dele, porque é inútil fugir, ele segue sempre atrás. Ele é contíguo ao que somos. Enfrentar o sofrimento é basicamente aceitarmos o fato de que vamos morrer e de que não temos qualquer garantia de vida após á morte, de eternidade. Superarmos as fantasias, entendermos essa rede imaginária que nos compõe como atributo da poesia, das artes, e dos ofícios lúdicos, mas não como verdade em si mesma.


Precisamos nos desprogramar das idéias que nos foram impostas, limpar o nosso disco rígido pessoal, desfragmentá-lo, pacientemente. Depois, através da reflexão, irmo-nos forjando, exercendo publicamente aquilo que idiossincrática e, intransferivelmente, somos. Podemos, porque temos o livre-arbítrio, cruzar a vida reféns do sexualismo, do alcoolismo, da religião, da ideologia, da moda e de outras ilusões transcendentes. Podemos ficar a ver caboclos e pretos-velhos desencarnados, ficar a ingerir sucos de cipós, viajando para imagens pretéritas disso que chamamos de identidade pessoal. Podemos nos entregar a seitas estranhas e ficar bebericando chá, cheirando pó, fumando pedras. O amigo Ozi Guimarães, num sonho meu, sentenciou: “O único chá de que precisamos é o chá de cima”. Por “em cima” compreendo o cérebro, a cabeça, a razão. Compreendo Isaac Newton, Tesla, Anaximandro, compreendo as mentes que se esforçaram em concluir o Teorema de Fermat. Porque, como diz a máxima, “Verdade de bêbado não vale”, entretanto, o Teorema de Pitágoras mudou o mundo.

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Razões e Amor


1. O amor é coisa da maturidade espiritual
2. Na juventude espiritual tendemos a escolhas baseadas ora em carências, ora em modelos parentais
3. Ou seja, muitas pessoas estão juntas não porque amem seus parceiros, num sentido maduro do que seja amor, antes, por que os imaginaram, um dia, de uma forma ideal e, de certa forma, mantêm a esperança de que esse outro vá se modificar

4. Ninguém se modifica
5. Então, as pessoas, insatisfeitas afetivamente, vão buscar elementos de fuga, capazes de preencher seus vazios afetivos

6. Mas, nada, senão a própria afetividade, preenche vazios afetivos

7. Biologicamente são sempre as mulheres que escolhem, dentre vários parceiros, qual aquele com quem conviverá
8. Essa escolha é mais influenciada por novelas, romances, elementos de imaginação, que por racionalidade e reflexão

9. Mulheres dependentes escolhem homens-heróis, capazes de protegê-las vida a fora
10. Mulheres independentes e fortes escolhem homens-filhos, passivos, e tentarão investir neles, para que se tornem trabalhadores, porém, sempre sob a tutela dela

11. Nesse caso, estabelece-se uma nítida relação mãe-filho, conveniente ao homem passivo e a mulher ativa
12. Porém esse homem passivo é também agressivo, e tem surtos de violência, quando, simbolicamente, quer se vingar da mãe (normalmente uma mulher também dominadora)

13. Uma roda de mulheres amigas normalmente é recheada de queixumes desses maridos, sejam nas características heróicas ou dependentes dos seus “homens”, como elas gostam de falar
14. Certamente elas serão infelizes afetivamente por toda a vida. Pois uma relação de dependência/carência é uma relação doente, não há ali o amor propriamente
15. As mulheres inteligentes talvez sejam as que pior escolhem seus parceiros e, por serem inteligentes, as que mais insatisfeitas ficarão

16. Acabam viciadas no casamento, e precisarão de tratamento para se livrar dele ou para lidar realisticamente com ele
17. Porém, se elas forem lidar realisticamente com seus casamentos, com seus maridos, descobrirão que eles não são seus parceiros ideais. Descobrirão que se mantiveram casadas por tanto tempo apenas por deficiência psicoemocional de ambos os lados
18. As pessoas saudáveis se relacionarão de forma mais tranquila e racional, quando chegar a hora e se a hora chegar. Caso contrário estarão bem, mesmo sozinhas

19. As pessoas, se querem ter uma relação saudável e que as faça evoluir, deverão escolher parceiros afins, que possuam uma ampla quantidade de elementos semelhantes, numa mesma faixa vibracional, existencial
20. No amor, como na espiritualidade, só os iguais se harmonizam

21. Numa relação ideal, ambos os parceiros crescem interior e exteriormente, pois se estimulam e se completam, sob vários aspectos

22. É fácil medir uma relação ou casamento fracassados: ninguém cresce. Há uma predominância dos problemas sobre o desenvolvimento, e de conflitos sobre a harmonia

23. E por que, embora sendo tão óbvia a escolha por parceiros afins, as pessoas têm escolhido parceiros inadequados?
24. Por problemas simbólicos com os pais, pela conveniência que a infelicidade traz, pela conivência com o grupo social (cuja maioria é também infeliz e tem más relações)

25. Todos algum dia na vida encontram a pessoa certa. Mas poucos têm a coragem de segui-la. Preferem a infelicidade.
26. E a vida é curta




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17 junho 2009

Eleição: A Antiga Fantasia do Paraíso Que Não Chega


Para o torcedor, o dia mais feliz é o do título. Um êxtase toma lugar e, por instantes, a vida parece bela e o universo ganha sentido. Vencer é se sobrepor ao outro, ao que traja uniforme diferente. Ser humano é competir, eleger adversários e desenhar brigas imaginárias e consequências. Mito e emoção, de mãos dadas, traçam o destino dos mortais, e todos possuem seu gueto: estético, festivo, esportivo, religioso ou político. Este último, o mais intrigante, porque, ao contrário dos demais, mistura realidade material e sonho. Arte, carnaval, futebol e religião, por exemplo, são absolutamente categorias do mundo imaginário, brumas, fantasias, existem no universo mental coletivo e, embora até se mate por tais causas, aquelas pulsões não passam de subjetividades, fixações e, em muito sentido, doença psíquica. A política, entretanto, diz respeito a fazeres ordinários. Num sentido lato, a ação política envolve desde um acordo de arrumação de móveis numa residência até a assinatura de um tratado de guerra de uma nação para com outra. Mas quero falar, neste breve texto, do sentido menor de política, que são as eleições municipais. Esse momento cíclico e idêntico, essa ilusão inventada por gregos antigos.

Para que serve um prefeito? Em tese, para gerir uma empresa, seu orçamento, prioridades, funcionários, parceiros. Uma empresa mantida por impostos. Um prefeito competente será aquele que conseguir equilibrar receita e despesa, mantendo as contas em dias e empreendendo níveis de manutenção aceitáveis nos diversos setores. Os recursos são limitados, o tempo de administração é mínimo, pois logo virão novos gerentes e um novo prefeito cuidará do conglomerado. Um trabalho burocrático, rotineiro, cercado de promissórias, fundos, legislação e planos orçamentários. Porém, porque vivemos numa democracia, determina-se que esse empresário seja escolhido pelo povo. Povo esse, em sua maioria, completamente ignorante quanto ao funcionamento da empresa. E, onde há ignorância as paixões comandam e, onde há paixão, há mito. Assim, a escolha do administrador municipal se transforma numa competição esportiva. A razão vai às favas e a cidade inteira começa a vibrar numa frequência alucinada, e assistimos a uma histeria coletiva. Todos tomam seus postos, uns de vermelho, outros de verdes, outros de azul, berrando numerais, possessos. Ocorrem grandes carreatas e caminhadas, verdadeiros rituais dionisíacos, regados à cerveja, cantigas e ofensas às cores e números alheios. A fuzarca dura até o início de outubro, ao final da tarde. Depois, um breve silêncio e, ao cair da noite, um dos grupos irá às ruas gritar pela última vez e doar alguns dólares a mais aos cofres da AMBEV. Um mês depois, os loucos todos já terão voltado à vida normal – que é, afinal, a realidade, com suas querências e pobrezas de todo dia.

Em janeiro, o administrador novato tomará posse e, num breve espaço de tempo, passará a ser criticado por aqueles que corriam empunhando sua bandeira, poucos meses atrás. Ou elogiado por outros, beneficiados pessoalmente de alguma forma pelo novo governo. Os miseráveis continuarão miseráveis, os feirantes continuarão feirantes, os professores – quase todos vermelhos de tão tristes -, continuarão na sua rotina, frente aos seus analfabetos sem cura. Porque, como diz o poeta, para isso fomos feitos, e não tardará uma copa do mundo, uma outra eleição. Marx reeditou o mito do paraíso na Terra, e são os que nisso crêem os fabricantes dessa agonia chamada eleição. Prefiro ficar com Jesus, acreditando que o nosso Reino não é aqui, porque o homem não pode salvar o homem, se somos vaidade e de vaidade não passamos.

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20 maio 2009

Ouça Canções de Fernando Caldas

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05 maio 2009

Dez Minutos


Convidaram-me para uma entrevista. A ocasião era para se divulgar o meu recente show musical. Aquele em que eu me despedia de Itabuna para ir morar no Rio de Janeiro. Marcaram para as dezoito horas, “pontualmente”, concluiu a secretária da emissora radiofônica. Mas não seria nesse dia que o meu problema com os minutos se teria resolvido. Cheguei as dezoito e dez, atônito. Para surpresa minha, encontrei o repórter chegando àquele horário, também atrasado dez minutos. Sorrimos e não houve problema. Apenas o dono da emissora se aborreceu por ter que enfiar uma trilha sonora extra. Certamente, alguns ouvintes, acostumados à rotina da precisão estranharam o deslize, mas nenhum telefonaria reclamando.


Sentamo-nos no estúdio, e começamos. Eu, desprotegido do frio intenso causado pelo ar-condicionado, fiquei a elucubrar o tempo, já nem querendo saber sobre a motivação de estar ali. Fiquei pensando, se todos nós, a humanidade inteira, atrasássemos os relógios em dez minutos, ganharíamos dez minutos. Numa projeção, poderíamos ganhar vinte, trinta minutos. Ganhar dias, meses e anos, bastando atrasar mais e mais os relógios, numa convenção inversa a que temos. Nesse caso, os anos começariam a reaparecer. Logo estaríamos em dois mil e oito, dois mil e sete, depois, voltaríamos ao século vinte, a mil novecentos e oitenta, e assim por diante. Curioso seria viver outro mil novecentos e oitenta e nove, um ano marcado pela eleição de Collor de Mello. Quando Raul Seixas morreu, e Luiz Gonzaga morreu, e morreu Nara Leão. Presenciar um novo mil novecentos e sessenta e quatro, sabendo, em paralelo a esse dejavu, existirem golpes militares e comícios inúteis.

Poderíamos também não ir para trás, paralisar os relógios todos num meio-dia, numa meia-noite eternos. Ficar a olhar sóis e luas, indefinidamente, habitando um extenso dia que não acabasse. É claro, em qualquer das possibilidades nós envelheceríamos. Olharíamos nossos cabelos num espelho de 1870 ou numa foto digital de um tempo sem número e, certamente, veríamos um velho, enrugado e de cabelos alvos. Afinal, a velhice nada tem a ver com o tempo. Velhice é desgaste de célula, e a ciência, faz séculos, busca solucioná-la, retardá-la. Em vão. Se um dia conseguirmos parar esse movimento interno (que não é para frente nem para trás, nem para lugar algum) então, pararemos por dentro, assim como estamos parados por fora. Se alguém se mexe é uma consciência, sem espaço, abafada, neurótica. Consome-se a si mesma, sem repouso.

O silêncio atormentador invadiu o estúdio. O entrevistador havia questionado algo, mas eu não o escutei. Não me afligi, pois sei, qualquer pergunta se adéqua a qualquer resposta. Se, por exemplo, interrogam-me: “O marxismo caducou?”, tanto posso dizer “Por mais que se esforcem, os homens terão sempre por questões cruciais o seu drama gnosiológico”, quanto, “Não tem qualquer graça um torneio de futebol em que sempre vencem os times mais ricos”. Qualquer resposta cabe em qualquer pergunta. Também sei que respostas são afirmativas, e afirmativas instauram seguidores, discípulos. Como vimos, seguidores podem surgir antes de mestres. O cristianismo antes de Jesus. O budismo antes de Buda. O platonismo no antigo Egito. Porque a humanidade só repete um único texto, sempre novo para quem o lê pela primeira vez. Por termos transformado carroças em aeronaves e rádios em hdtv, parecemos estar indo, mas, basta um atraso de dez minutos, sincronizado, para se perceber: nada está no lugar. Por isso precisamos de folhinhas. Aquelas com mulheres nuas, expostas em barbearias e oficinas mecânicas.

Entretanto, educadamente, pedi ao repórter que refizesse a pergunta. Porque vivemos numa condição em que só servem as palavras esperadas.

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O Futuro das Relações Afetivas - As Real Doll

Segundo alguns pensadores, a família é a manifestação contemporânea do sagrado. Religião e ideologia, a despeito do aumento de grupos fundamentalistas, foram substituídas pela idolatria à família. Os filhos, em nossos dias, venerados e tratados como príncipes, já foram, em outros períodos históricos, tidos como meros adultos em miniatura. Somente com a modernidade, notadamente com o advento do amor romântico, a família passou a ganhar um estatus diferenciado, tomando acento definitivo no capitalismo. A família, como a conhecemos, é resultado das alterações nos meios de produção e, por conseguinte, da ênfase mercadológica ao casamento por amor. Como todo projeto da modernidade: estado, esclarecimento, ciência etc, o casamento motivado pelo amor é outra categoria que talvez nunca tenha existido de fato.

Os mitos fundantes do romantismo, cuja referência primeira é “Tristão e Isolda”, no século IX, ganharem força no Renascimento e persistem até esse início de século XXI. Entretanto, dia-a-dia, sobretudo os jovens, vêm propondo novas experiências relacionais, inspirados pelo absoluto fracasso do modelo romântico das relações. Embora continuem motivados pelo mito da relação amorosa, do encontro com a suposta alma gêmea, os adolescentes, já no final do século XX, passaram a introduzir novo formato nas interações. Eles efetuam uma série de tentativas, repletas de acertos e erros, com muitos parceiros. Como na Antiguidade, busca-se o prazer, prioritariamente, e não o amor. E, mesmo se ocorrer o encontro amoroso, ele viverá sob uma continuada pressão. Isso não quer dizer o fim do amor ou que o amor jamais tenha existido, porém, significa que a associação do amor ao casamento é um arbítrio. A absoluta maioria dos casamentos é mantida por interesses estranhos ao amor. Em verdade, os que se amam raramente ficam juntos. É muito fácil, nesse particular, enxergarmos os reais motivadores dessas uniões. Grosso modo, as pessoas se mantêm casadas por dinheiro, sexo ou carência. O ritual do acasalamento moderno inclui roupas caras, lingeries, jóias, carros, passeios, imóveis e tranquilizantes, todos eles, bens de consumo adquiríveis.

E o futuro das relações afetivas? Tudo indica que o romantismo não existirá. Ele fracassou, criou relações doentias, passionais, obrigou as pessoas à mentira e à hipocrisia, produziu homens e mulheres frágeis, casais dependentes, utilizando um ao outro como muleta. O futuro das relações está diretamente ligado à evolução do autoconhecimento, às investigações do genoma humano, à superação das superstições: o desaparecimento da crença em Deus, em espíritos, mestres invisíveis ou naquilo que não se pode provar, enfim. Somos uma espécie animal e só, e é muito. Um observador neutro que nos tivesse estudando há milênios, saberia elaborar um gráfico de padrão de comportamento. A biologia humana, como a de qualquer espécie, é mensurável: fazemos guerra, versos, cidades, sapatos, funerais, tecnologia etc. Também faz parte do nosso repertório à criação de símbolos. Gostamos de representar e projetar. Mas, porque somos objetos e sujeitos, vivemos essa mitologia sem nos dar conta. O ser humano do futuro dominará as informações sobre si mesmo, como hoje cataloga o comportamento de uma galinha ou de uma formiga. No âmbito das sensações do afeto, isso significará relações moldadas na racionalidade. A amizade será entendida como uma ilusão da mente. Os casais não residirão sob um mesmo teto (porque isso é uma das maiores loucuras já instituídas). Ninguém sustentará ninguém e os filhos serão responsabilidade coletiva.

Quanto ao sexo, será preferível realizá-lo com andróides. Hoje, já encontramos no mercado bonecas excepcionais, as chamadas Real Doll, quase idênticas às mulheres de verdade. Nos próximos anos, essas bonecas serão incrementadas pela tecnologia robótica, poderão falar e fazer algumas atividades domésticas básicas. Serão amantes perfeitas. Pois elas são lindas e possuem tudo o que um homem pode querer de uma mulher.

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04 maio 2009

Igualdade entre os Homens: A grande Farsa


Não existe palavra mais subjetiva e incerta que igualdade. Etimologicamente, o termo tem origem desconhecida. Neste particular, o ano de 1799 é emblemático, pois marca a conclusão da Revolução Francesa, com Napoleão se tornando Cônsul da República, e é quando primeiro se houve falar em “igualdade entre os homens”. Até então, especialmente na Antiguidade, tal afirmativa soaria absurda. Mas ela acabaria, em 1948, por desencadear a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Não é difícil demonstrar por que a palavra igualdade é tão equivocada: não existe coisa alguma igual à outra coisa! Tal fenômeno só ocorrerá em tautologias, que são as redundâncias de pensamento, tão usualmente praticadas por muitos, como “acabamento final”, “elo de ligação”, “há anos atrás”, “abertura inaugural”. Na lógica, são modelos que, independente da valoração de suas fórmulas atômicas, resultam verdadeiros, (A U ~A). Na matemática, temos (F = m.a) ou (e= mc2), ou seja, toda vez que eu afirmo, no predicado, algo que está no sujeito, tenho uma tautologia. Dizer 2 + 2 é o mesmo que dizer 4. Ao definir círculo, estou definindo redondo, e assim por diante. Tanto no raciocínio puro quanto no mundo factual, não existe algo como igualdade. Em verdade, todas as coisas são desiguais.

A ideia de igualdade entre os homens é insana. E não há como defendê-la. Salvo através de falácias. Alguém pode dizer, “Somos todos iguais, porque Deus existe”, ou ainda, “Somos humanos, logo somos todos iguais”. No primeiro caso há uma Falácia de Afirmação do Consequente, quer dizer “Se Deus existe, então somos todos iguais”. Contudo, a existência de Deus não se pode provar logicamente, logo, associar a igualdade dos homens a Deus é um erro. No segundo exemplo, há um Acidente Inverso ou Generalização Apressada, o fato de sermos humanos não nos leva necessariamente a uma igualdade. No máximo, podemos afirmar que pertencemos a uma mesma espécie animal, assim como o Canis familiaris. Entretanto, não há como afirmar que um pastor belga é igual a um lhasa apso.

Para defender o ideal de igualdade entre os homens se tem usado muito o Argumentum Ad Baculum, ou seja, o apelo à força, tentando convencer a outrem de uma suposta verdade. Uma espécie de patrulha ideológica, a instauração de uma premissa hegemônica e massificada. Em nossos dias, não há quase vozes que se digam contrárias ao sistema de cotas para estudantes negros. Tal sistema, por sinal, vale-se de outra falácia, o Argumentum Ad Misericordiam. Afinal, os argumentos que o defendem apelam para a situação de miséria e discriminação histórica, sofrida pelos afro-descendentes, como justificativa para compensações necessárias etc. Sempre se utilizando de imagens mais emotivas que lógicas. Tudo fazendo parte de uma estratégia governamental, a gastar milhões de reais com a mídia na divulgação de tais princípios, incorrendo, dessa forma, em mais uma falácia, o Argumentum ad Nauseam, que se resume à repetição exaustiva de determinado argumento até que se convença pelo casanço, pela náusea.

Os defensores das igualdades se utilizam ainda do Argumentum Ad Novitatem, afirmando que o tratamento preferencial dado às comunidades negras e indígenas é algo novo na história do Brasil, logo, tem valor de verdade. A seguir, apelam para a falácia do Argumentum Ad Numerum, inferindo que a maioria dos brasileiros concorda com o tratamento desigual entre as raças. Para isso, políticos, artistas, professores, juristas etc sobem em tribunas e utilizam o Argumentum Ad Populum, tentando converter a audiência em adeptos. E é claro que reforçarão seus discursos com citações de autoridades intelectuais defensoras dos regimes de cotas e inclusão. Nesse caso, incorrem no erro da falácia do Argumentum Ad Verecundiam. Afinal, a opinião de uma pessoa notória não é verdadeiro apenas por ter vindo dela.

Como não passarão na prova do raciocínio, os advogados da teoria da igualdade entre as pessoas, como defesa, utilizarão da Bifurcação, quando dizem: “Ora, ou os homens são iguais ou eles são diferentes, se são diferentes você está querendo dizer que há homens superiores a outros”. O erro nessa falácia está da limitação das possibilidades matemáticas, “ou isso ou aquilo”. Demonstrar que não somos iguais não significa negar possibilidades outras de enunciados logicamente plausíveis. Por fim, citemos o argumento Circulus In Demonstrando, como o nome indiga, um raciocínio reduntante. Pode-se dizer, “ Os negros devem ser tratados desigualmente porque passarão a ter privilégios e se interessarão pelos estudos e crescerão socialmente, por isso os negros devem ter privilégios e ser tratados desigualmente”. Trata-se de uma circunferência amplamente ilógica, sem quaisquer provas plausíveis do que se diz.

Temos uma Constituição Federal ampla. O simples cumprimento do artigo 5º já seria suficiente para nos fazer uma nação. Infelizmente a sociedade é regida prioritariamente pela passionalidade, e não pela inteligência (vide “O homem cordial”). O pensamento de Karl Marx criou uma religião duradoura, hoje, impregnada em segmentos de toda ordem. O mito da luta de classes permeia as nossas salas de aula, os sindicatos, os órgãos públicos e os jovens em geral. Porém, a única forma de tornar os homens iguais é pela força. Desenha-se, no Brasil, um comunismo, através de arbítrios, e o que vem por aí cheira a assustador. Pois esses modelos classistas, comunitários, construídos em assembléias, fóruns, associações etc, erguem-se contra a mais sublime expressão do universo, que é a diferença. Diferente composição anatômica entre uma gota d’água e outra, diferente estrutura entre uma célula sanguínea e um neurônio, diferente rio a fluir, incansavelmente.

Esses homens e mulheres que estarão mais uma vez dispostos a matar e a morrer em nome de suas verdades, em nome de um mundo igualitário, falaciosamente, como vimos, terão como inimigos todos nós, os românticos, que amam o individualismo, o drama humano, a questão do saber e do ser. Nós, cuja essência está nos versos, na transformação de crisântemos em azuis. Nós, os escapistas, que preferimos miosótis. Que deixaríamos os pretos todos à míngua desde que nossa amada jamais nos abandonasse.

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03 maio 2009

Adquira os CDs

Para comprar algum dos CDs, envie um e-mail para marimbeta7@uol.com.br, informando os CDs e as quantidades que deseja adquirir, seu nome e endereço. Nós retornaremos o contato com o valor total (incluindo o frete) e os dados da transferência bancária. Bons sons!

Você poderá adquirir os seguintes CDs:


- Voz de Mim
"Voz de Mim" é o primeiro disco de Fernando Caldas.Foi gravado em 1996, em Itabuna/BA.









Faixas:
1. Voz de Mim
2. Onomatopéias
3. O Carnaval
4. Blues Triste
5. Liberdade
6. Nêga Cão
7. Funkaos
8. Os Urubus do Universo
9. Pena
10. Barro Negro
11. Karma
12. José II
13. Mendigos de Gravata


- Fernando Caldas Canta a MPB

Foi lançado em 2008 e apresenta um repertório
de grandes músicas da MPB.








Faixas:

1. Foi DeusQue Fez Você
2. Drão
3. Sintonia
4. Assim Caminha a Humanidade
5. Marina
6. Dia de Domingo
7. Gente Humilde
8. O Mundo é um Moinho
9. Desde Que o Samba é Samba
10. A Maçã
11. O Caderno
12. Força Estranha
13. Negue
14. Boiadeiro
15. Errei, Erramos


- Os Caras do BNH

O CD "Os Caras do BNH" é de 2007 e apresenta
composições de vários artista de Itabuna/BA de
músicas antigas dos "caras". Samba-rock,
bossa-nova, blues, MPB. Um CD recheado de estilos.






Faixas:
1. Apresentação
2. Buzu
3. Violão
4. Jogo Duro
5. Rainha do Meu Sertão
6. Canto do Menino
7. Concha do Mar
8. Chuvas as Sul
9. Profundo Olhar de Lua Minguante
10. Músicas Mortas
11. Poros Abertos
12. Lotação 48 Passageiros
13. Porque é Bonito e Pronto
14. Olhos de Louça
15. Rádio BNH
16. Tabaco
17. Cara de Maracujá
18. Mundo Animal
19. Contraste Urbano
20. Noite
21. O Gato e a Gata
22. Sombras
23. Poema Negro
24. Esmeralda
25. O Começo do Fim
26. O Que Tá Feito Não Vale

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Show de Fernando Caldas no dia 18 de Junho no Centro de Cultura Adonias Filho

No próximo dia 18 de junho de 2009, Fernando Caldas realizará show musical no Centro de Cultura Adonias Filho, em Itabuna, a partir das 20 horas. O espetáculo registra a despedida do artista dos palcos grapiúnas. Fernando está indo residir no Rio de Janeiro. Ingressos R$ 10,00 (preço único).




Conheça o trabalho de Fernando Caldas; baixe gratuitamente em MP3:

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