28 fevereiro 2011

Carta ao Meu Amor


Não te quero esposa. Quero-te amante, companheira, irmã de todas as horas. Irmã de muitas vidas. Não te quero casa, guarda-roupas, fogão, máquina de lavar, mesa posta. Quero que te dispas da personagem e atinjas, em ti, a mulher profunda, habitante do melhor que és. Não me exijas automóveis, títulos, paletó, nobreza, sucesso, porque o mais nobre de mim para ti é o meu amor. Que nem meu é, apenas me perpassa, vindo do não sei, e te encontra, enlaça-te, escolhe-te, entre outras e dança, e verseja em tua alma. Não me queiras marido. Jamais poderia ser marido. Não sou esses homens que passam, comuns, indo ali e acolá, pagar títulos, investir em ações, planejar viagens formais e diversões obrigatórias. Não sou nenhum deles. Não me queiras marido. Encontramo-nos e isto basta. Olhei nos teus olhos e vi neles um ecoar de cores que em meus olhos se fixaram. Demo-nos as mãos, tivemos os gozos da carne, comungamos de azuis, madrugadas e cânticos diversos, anjos nos acompanharam, borboletas e outros bichos. Onde poderíamos ir mais?

Não te quero esposa. Quero-te amante, companheira, irmã de todas as horas. Irmã de muitas vidas. Não te quero casa, guarda-roupas, fogão, máquina de lavar, mesa posta. Quero que te dispas da personagem e atinjas, em ti, a mulher profunda, habitante do melhor que és. Não me exijas automóveis, títulos, paletó, nobreza, sucesso, porque o mais nobre de mim para ti é o meu amor. Que nem meu é, apenas me perpassa, vindo do não sei, e te encontra, enlaça-te, escolhe-te, entre outras e dança, e verseja em tua alma. Não me queiras marido. Jamais poderia ser marido. Não sou esses homens que passam, comuns, indo ali e acolá, pagar títulos, investir em ações, planejar viagens formais e diversões obrigatórias. Não sou nenhum deles. Não me queiras marido. Encontramo-nos e isto basta. Olhei nos teus olhos e vi neles um ecoar de cores que em meus olhos se fixaram. Demo-nos as mãos, tivemos os gozos da carne, comungamos de azuis, madrugadas e cânticos diversos, anjos nos acompanharam, borboletas e outros bichos. Onde poderíamos ir mais?
Não te vejo numa casa a esperar a morte. Não te imagino descartável, social. O nosso amor é um vulcão, é certo, mas em liberdade, nas nuvens, no indefinido, em Andrômeda, numa fuga para o vermelho cósmico. Dentro de uma casa adoeceríamos. Eu me tornaria teu pai, teu avô, não teria mais nada a te ofertar, além de meus medos, de minhas fraquezas. Eu seria como um Jesus descido da cruz e vivo, sem mais Cristo ser. Porque não sou mais um em teus alfarrábios, mas o teu homem, o teu mestre.
Posso te apanhar e te levar ao ápice das tuas virtudes, despertar-te, libertar-te de todo aprendizado inútil da tua infância de padres. Posso te fazer musa, sacerdotisa. O que somos é sem nome. Somos o sol, amarelos, o mar destruindo pedras, satélites pintando o céu, somos os que vão, sem rumo, os que não retornam nunca mais. Se trancados numa caverna turva, trazendo no peito um crachá de identificação, quem seríamos? Seríamos os mortos, os que contemplaram a luz e tiveram medo, recuaram, preferiram o lodo, a conveniência, o conforto do cemitério. Não poderíamos, defuntos, consumar a criação. No máximo, regaríamos flores em sepulturas vizinhas, aprontaríamos o chá das seis, arrumaríamos malas e passearíamos sobre criptas distantes.
Lembra-te adolescente. As folhas secas que guardavas em teu caderno. É ali que estou e me consumo, até os dias de hoje, nessa eternidade de chuva, de rio. Estou nas tuas alegrias verdadeiras, no verão da tua alma. Deixa-me ser teu príncipe, teu cantor, teu guia das horas tristes e suaves. Aos pés da tua existência, de prontidão, estar sempre sorrindo e flutuando, em minhas vestes de mendigo e minha ambição de passarinho. Minha adorada, emanação do meu silêncio, somos maiores que essa feira-livre onde se negociam ilusões. Quero-te sem esse rol de prendas que te impuseram os antigos. Quero-te sem as fantasias urbanas. Em anáguas te quero, no algodão de camponesa, no vestido de flor.
As mãos em tua nuca serão sempre as minhas. Sou o teu céu, sou o teu Deus. Tudo mais é mentira.


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