20 maio 2009

Ouça Canções de Fernando Caldas

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05 maio 2009

Dez Minutos


Convidaram-me para uma entrevista. A ocasião era para se divulgar o meu recente show musical. Aquele em que eu me despedia de Itabuna para ir morar no Rio de Janeiro. Marcaram para as dezoito horas, “pontualmente”, concluiu a secretária da emissora radiofônica. Mas não seria nesse dia que o meu problema com os minutos se teria resolvido. Cheguei as dezoito e dez, atônito. Para surpresa minha, encontrei o repórter chegando àquele horário, também atrasado dez minutos. Sorrimos e não houve problema. Apenas o dono da emissora se aborreceu por ter que enfiar uma trilha sonora extra. Certamente, alguns ouvintes, acostumados à rotina da precisão estranharam o deslize, mas nenhum telefonaria reclamando.


Sentamo-nos no estúdio, e começamos. Eu, desprotegido do frio intenso causado pelo ar-condicionado, fiquei a elucubrar o tempo, já nem querendo saber sobre a motivação de estar ali. Fiquei pensando, se todos nós, a humanidade inteira, atrasássemos os relógios em dez minutos, ganharíamos dez minutos. Numa projeção, poderíamos ganhar vinte, trinta minutos. Ganhar dias, meses e anos, bastando atrasar mais e mais os relógios, numa convenção inversa a que temos. Nesse caso, os anos começariam a reaparecer. Logo estaríamos em dois mil e oito, dois mil e sete, depois, voltaríamos ao século vinte, a mil novecentos e oitenta, e assim por diante. Curioso seria viver outro mil novecentos e oitenta e nove, um ano marcado pela eleição de Collor de Mello. Quando Raul Seixas morreu, e Luiz Gonzaga morreu, e morreu Nara Leão. Presenciar um novo mil novecentos e sessenta e quatro, sabendo, em paralelo a esse dejavu, existirem golpes militares e comícios inúteis.

Poderíamos também não ir para trás, paralisar os relógios todos num meio-dia, numa meia-noite eternos. Ficar a olhar sóis e luas, indefinidamente, habitando um extenso dia que não acabasse. É claro, em qualquer das possibilidades nós envelheceríamos. Olharíamos nossos cabelos num espelho de 1870 ou numa foto digital de um tempo sem número e, certamente, veríamos um velho, enrugado e de cabelos alvos. Afinal, a velhice nada tem a ver com o tempo. Velhice é desgaste de célula, e a ciência, faz séculos, busca solucioná-la, retardá-la. Em vão. Se um dia conseguirmos parar esse movimento interno (que não é para frente nem para trás, nem para lugar algum) então, pararemos por dentro, assim como estamos parados por fora. Se alguém se mexe é uma consciência, sem espaço, abafada, neurótica. Consome-se a si mesma, sem repouso.

O silêncio atormentador invadiu o estúdio. O entrevistador havia questionado algo, mas eu não o escutei. Não me afligi, pois sei, qualquer pergunta se adéqua a qualquer resposta. Se, por exemplo, interrogam-me: “O marxismo caducou?”, tanto posso dizer “Por mais que se esforcem, os homens terão sempre por questões cruciais o seu drama gnosiológico”, quanto, “Não tem qualquer graça um torneio de futebol em que sempre vencem os times mais ricos”. Qualquer resposta cabe em qualquer pergunta. Também sei que respostas são afirmativas, e afirmativas instauram seguidores, discípulos. Como vimos, seguidores podem surgir antes de mestres. O cristianismo antes de Jesus. O budismo antes de Buda. O platonismo no antigo Egito. Porque a humanidade só repete um único texto, sempre novo para quem o lê pela primeira vez. Por termos transformado carroças em aeronaves e rádios em hdtv, parecemos estar indo, mas, basta um atraso de dez minutos, sincronizado, para se perceber: nada está no lugar. Por isso precisamos de folhinhas. Aquelas com mulheres nuas, expostas em barbearias e oficinas mecânicas.

Entretanto, educadamente, pedi ao repórter que refizesse a pergunta. Porque vivemos numa condição em que só servem as palavras esperadas.

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O Futuro das Relações Afetivas - As Real Doll

Segundo alguns pensadores, a família é a manifestação contemporânea do sagrado. Religião e ideologia, a despeito do aumento de grupos fundamentalistas, foram substituídas pela idolatria à família. Os filhos, em nossos dias, venerados e tratados como príncipes, já foram, em outros períodos históricos, tidos como meros adultos em miniatura. Somente com a modernidade, notadamente com o advento do amor romântico, a família passou a ganhar um estatus diferenciado, tomando acento definitivo no capitalismo. A família, como a conhecemos, é resultado das alterações nos meios de produção e, por conseguinte, da ênfase mercadológica ao casamento por amor. Como todo projeto da modernidade: estado, esclarecimento, ciência etc, o casamento motivado pelo amor é outra categoria que talvez nunca tenha existido de fato.

Os mitos fundantes do romantismo, cuja referência primeira é “Tristão e Isolda”, no século IX, ganharem força no Renascimento e persistem até esse início de século XXI. Entretanto, dia-a-dia, sobretudo os jovens, vêm propondo novas experiências relacionais, inspirados pelo absoluto fracasso do modelo romântico das relações. Embora continuem motivados pelo mito da relação amorosa, do encontro com a suposta alma gêmea, os adolescentes, já no final do século XX, passaram a introduzir novo formato nas interações. Eles efetuam uma série de tentativas, repletas de acertos e erros, com muitos parceiros. Como na Antiguidade, busca-se o prazer, prioritariamente, e não o amor. E, mesmo se ocorrer o encontro amoroso, ele viverá sob uma continuada pressão. Isso não quer dizer o fim do amor ou que o amor jamais tenha existido, porém, significa que a associação do amor ao casamento é um arbítrio. A absoluta maioria dos casamentos é mantida por interesses estranhos ao amor. Em verdade, os que se amam raramente ficam juntos. É muito fácil, nesse particular, enxergarmos os reais motivadores dessas uniões. Grosso modo, as pessoas se mantêm casadas por dinheiro, sexo ou carência. O ritual do acasalamento moderno inclui roupas caras, lingeries, jóias, carros, passeios, imóveis e tranquilizantes, todos eles, bens de consumo adquiríveis.

E o futuro das relações afetivas? Tudo indica que o romantismo não existirá. Ele fracassou, criou relações doentias, passionais, obrigou as pessoas à mentira e à hipocrisia, produziu homens e mulheres frágeis, casais dependentes, utilizando um ao outro como muleta. O futuro das relações está diretamente ligado à evolução do autoconhecimento, às investigações do genoma humano, à superação das superstições: o desaparecimento da crença em Deus, em espíritos, mestres invisíveis ou naquilo que não se pode provar, enfim. Somos uma espécie animal e só, e é muito. Um observador neutro que nos tivesse estudando há milênios, saberia elaborar um gráfico de padrão de comportamento. A biologia humana, como a de qualquer espécie, é mensurável: fazemos guerra, versos, cidades, sapatos, funerais, tecnologia etc. Também faz parte do nosso repertório à criação de símbolos. Gostamos de representar e projetar. Mas, porque somos objetos e sujeitos, vivemos essa mitologia sem nos dar conta. O ser humano do futuro dominará as informações sobre si mesmo, como hoje cataloga o comportamento de uma galinha ou de uma formiga. No âmbito das sensações do afeto, isso significará relações moldadas na racionalidade. A amizade será entendida como uma ilusão da mente. Os casais não residirão sob um mesmo teto (porque isso é uma das maiores loucuras já instituídas). Ninguém sustentará ninguém e os filhos serão responsabilidade coletiva.

Quanto ao sexo, será preferível realizá-lo com andróides. Hoje, já encontramos no mercado bonecas excepcionais, as chamadas Real Doll, quase idênticas às mulheres de verdade. Nos próximos anos, essas bonecas serão incrementadas pela tecnologia robótica, poderão falar e fazer algumas atividades domésticas básicas. Serão amantes perfeitas. Pois elas são lindas e possuem tudo o que um homem pode querer de uma mulher.

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04 maio 2009

Igualdade entre os Homens: A grande Farsa


Não existe palavra mais subjetiva e incerta que igualdade. Etimologicamente, o termo tem origem desconhecida. Neste particular, o ano de 1799 é emblemático, pois marca a conclusão da Revolução Francesa, com Napoleão se tornando Cônsul da República, e é quando primeiro se houve falar em “igualdade entre os homens”. Até então, especialmente na Antiguidade, tal afirmativa soaria absurda. Mas ela acabaria, em 1948, por desencadear a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Não é difícil demonstrar por que a palavra igualdade é tão equivocada: não existe coisa alguma igual à outra coisa! Tal fenômeno só ocorrerá em tautologias, que são as redundâncias de pensamento, tão usualmente praticadas por muitos, como “acabamento final”, “elo de ligação”, “há anos atrás”, “abertura inaugural”. Na lógica, são modelos que, independente da valoração de suas fórmulas atômicas, resultam verdadeiros, (A U ~A). Na matemática, temos (F = m.a) ou (e= mc2), ou seja, toda vez que eu afirmo, no predicado, algo que está no sujeito, tenho uma tautologia. Dizer 2 + 2 é o mesmo que dizer 4. Ao definir círculo, estou definindo redondo, e assim por diante. Tanto no raciocínio puro quanto no mundo factual, não existe algo como igualdade. Em verdade, todas as coisas são desiguais.

A ideia de igualdade entre os homens é insana. E não há como defendê-la. Salvo através de falácias. Alguém pode dizer, “Somos todos iguais, porque Deus existe”, ou ainda, “Somos humanos, logo somos todos iguais”. No primeiro caso há uma Falácia de Afirmação do Consequente, quer dizer “Se Deus existe, então somos todos iguais”. Contudo, a existência de Deus não se pode provar logicamente, logo, associar a igualdade dos homens a Deus é um erro. No segundo exemplo, há um Acidente Inverso ou Generalização Apressada, o fato de sermos humanos não nos leva necessariamente a uma igualdade. No máximo, podemos afirmar que pertencemos a uma mesma espécie animal, assim como o Canis familiaris. Entretanto, não há como afirmar que um pastor belga é igual a um lhasa apso.

Para defender o ideal de igualdade entre os homens se tem usado muito o Argumentum Ad Baculum, ou seja, o apelo à força, tentando convencer a outrem de uma suposta verdade. Uma espécie de patrulha ideológica, a instauração de uma premissa hegemônica e massificada. Em nossos dias, não há quase vozes que se digam contrárias ao sistema de cotas para estudantes negros. Tal sistema, por sinal, vale-se de outra falácia, o Argumentum Ad Misericordiam. Afinal, os argumentos que o defendem apelam para a situação de miséria e discriminação histórica, sofrida pelos afro-descendentes, como justificativa para compensações necessárias etc. Sempre se utilizando de imagens mais emotivas que lógicas. Tudo fazendo parte de uma estratégia governamental, a gastar milhões de reais com a mídia na divulgação de tais princípios, incorrendo, dessa forma, em mais uma falácia, o Argumentum ad Nauseam, que se resume à repetição exaustiva de determinado argumento até que se convença pelo casanço, pela náusea.

Os defensores das igualdades se utilizam ainda do Argumentum Ad Novitatem, afirmando que o tratamento preferencial dado às comunidades negras e indígenas é algo novo na história do Brasil, logo, tem valor de verdade. A seguir, apelam para a falácia do Argumentum Ad Numerum, inferindo que a maioria dos brasileiros concorda com o tratamento desigual entre as raças. Para isso, políticos, artistas, professores, juristas etc sobem em tribunas e utilizam o Argumentum Ad Populum, tentando converter a audiência em adeptos. E é claro que reforçarão seus discursos com citações de autoridades intelectuais defensoras dos regimes de cotas e inclusão. Nesse caso, incorrem no erro da falácia do Argumentum Ad Verecundiam. Afinal, a opinião de uma pessoa notória não é verdadeiro apenas por ter vindo dela.

Como não passarão na prova do raciocínio, os advogados da teoria da igualdade entre as pessoas, como defesa, utilizarão da Bifurcação, quando dizem: “Ora, ou os homens são iguais ou eles são diferentes, se são diferentes você está querendo dizer que há homens superiores a outros”. O erro nessa falácia está da limitação das possibilidades matemáticas, “ou isso ou aquilo”. Demonstrar que não somos iguais não significa negar possibilidades outras de enunciados logicamente plausíveis. Por fim, citemos o argumento Circulus In Demonstrando, como o nome indiga, um raciocínio reduntante. Pode-se dizer, “ Os negros devem ser tratados desigualmente porque passarão a ter privilégios e se interessarão pelos estudos e crescerão socialmente, por isso os negros devem ter privilégios e ser tratados desigualmente”. Trata-se de uma circunferência amplamente ilógica, sem quaisquer provas plausíveis do que se diz.

Temos uma Constituição Federal ampla. O simples cumprimento do artigo 5º já seria suficiente para nos fazer uma nação. Infelizmente a sociedade é regida prioritariamente pela passionalidade, e não pela inteligência (vide “O homem cordial”). O pensamento de Karl Marx criou uma religião duradoura, hoje, impregnada em segmentos de toda ordem. O mito da luta de classes permeia as nossas salas de aula, os sindicatos, os órgãos públicos e os jovens em geral. Porém, a única forma de tornar os homens iguais é pela força. Desenha-se, no Brasil, um comunismo, através de arbítrios, e o que vem por aí cheira a assustador. Pois esses modelos classistas, comunitários, construídos em assembléias, fóruns, associações etc, erguem-se contra a mais sublime expressão do universo, que é a diferença. Diferente composição anatômica entre uma gota d’água e outra, diferente estrutura entre uma célula sanguínea e um neurônio, diferente rio a fluir, incansavelmente.

Esses homens e mulheres que estarão mais uma vez dispostos a matar e a morrer em nome de suas verdades, em nome de um mundo igualitário, falaciosamente, como vimos, terão como inimigos todos nós, os românticos, que amam o individualismo, o drama humano, a questão do saber e do ser. Nós, cuja essência está nos versos, na transformação de crisântemos em azuis. Nós, os escapistas, que preferimos miosótis. Que deixaríamos os pretos todos à míngua desde que nossa amada jamais nos abandonasse.

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03 maio 2009

Adquira os CDs

Para comprar algum dos CDs, envie um e-mail para marimbeta7@uol.com.br, informando os CDs e as quantidades que deseja adquirir, seu nome e endereço. Nós retornaremos o contato com o valor total (incluindo o frete) e os dados da transferência bancária. Bons sons!

Você poderá adquirir os seguintes CDs:


- Voz de Mim
"Voz de Mim" é o primeiro disco de Fernando Caldas.Foi gravado em 1996, em Itabuna/BA.









Faixas:
1. Voz de Mim
2. Onomatopéias
3. O Carnaval
4. Blues Triste
5. Liberdade
6. Nêga Cão
7. Funkaos
8. Os Urubus do Universo
9. Pena
10. Barro Negro
11. Karma
12. José II
13. Mendigos de Gravata


- Fernando Caldas Canta a MPB

Foi lançado em 2008 e apresenta um repertório
de grandes músicas da MPB.








Faixas:

1. Foi DeusQue Fez Você
2. Drão
3. Sintonia
4. Assim Caminha a Humanidade
5. Marina
6. Dia de Domingo
7. Gente Humilde
8. O Mundo é um Moinho
9. Desde Que o Samba é Samba
10. A Maçã
11. O Caderno
12. Força Estranha
13. Negue
14. Boiadeiro
15. Errei, Erramos


- Os Caras do BNH

O CD "Os Caras do BNH" é de 2007 e apresenta
composições de vários artista de Itabuna/BA de
músicas antigas dos "caras". Samba-rock,
bossa-nova, blues, MPB. Um CD recheado de estilos.






Faixas:
1. Apresentação
2. Buzu
3. Violão
4. Jogo Duro
5. Rainha do Meu Sertão
6. Canto do Menino
7. Concha do Mar
8. Chuvas as Sul
9. Profundo Olhar de Lua Minguante
10. Músicas Mortas
11. Poros Abertos
12. Lotação 48 Passageiros
13. Porque é Bonito e Pronto
14. Olhos de Louça
15. Rádio BNH
16. Tabaco
17. Cara de Maracujá
18. Mundo Animal
19. Contraste Urbano
20. Noite
21. O Gato e a Gata
22. Sombras
23. Poema Negro
24. Esmeralda
25. O Começo do Fim
26. O Que Tá Feito Não Vale

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Show de Fernando Caldas no dia 18 de Junho no Centro de Cultura Adonias Filho

No próximo dia 18 de junho de 2009, Fernando Caldas realizará show musical no Centro de Cultura Adonias Filho, em Itabuna, a partir das 20 horas. O espetáculo registra a despedida do artista dos palcos grapiúnas. Fernando está indo residir no Rio de Janeiro. Ingressos R$ 10,00 (preço único).




Conheça o trabalho de Fernando Caldas; baixe gratuitamente em MP3:

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