05 maio 2009

O Futuro das Relações Afetivas - As Real Doll

Segundo alguns pensadores, a família é a manifestação contemporânea do sagrado. Religião e ideologia, a despeito do aumento de grupos fundamentalistas, foram substituídas pela idolatria à família. Os filhos, em nossos dias, venerados e tratados como príncipes, já foram, em outros períodos históricos, tidos como meros adultos em miniatura. Somente com a modernidade, notadamente com o advento do amor romântico, a família passou a ganhar um estatus diferenciado, tomando acento definitivo no capitalismo. A família, como a conhecemos, é resultado das alterações nos meios de produção e, por conseguinte, da ênfase mercadológica ao casamento por amor. Como todo projeto da modernidade: estado, esclarecimento, ciência etc, o casamento motivado pelo amor é outra categoria que talvez nunca tenha existido de fato.

Os mitos fundantes do romantismo, cuja referência primeira é “Tristão e Isolda”, no século IX, ganharem força no Renascimento e persistem até esse início de século XXI. Entretanto, dia-a-dia, sobretudo os jovens, vêm propondo novas experiências relacionais, inspirados pelo absoluto fracasso do modelo romântico das relações. Embora continuem motivados pelo mito da relação amorosa, do encontro com a suposta alma gêmea, os adolescentes, já no final do século XX, passaram a introduzir novo formato nas interações. Eles efetuam uma série de tentativas, repletas de acertos e erros, com muitos parceiros. Como na Antiguidade, busca-se o prazer, prioritariamente, e não o amor. E, mesmo se ocorrer o encontro amoroso, ele viverá sob uma continuada pressão. Isso não quer dizer o fim do amor ou que o amor jamais tenha existido, porém, significa que a associação do amor ao casamento é um arbítrio. A absoluta maioria dos casamentos é mantida por interesses estranhos ao amor. Em verdade, os que se amam raramente ficam juntos. É muito fácil, nesse particular, enxergarmos os reais motivadores dessas uniões. Grosso modo, as pessoas se mantêm casadas por dinheiro, sexo ou carência. O ritual do acasalamento moderno inclui roupas caras, lingeries, jóias, carros, passeios, imóveis e tranquilizantes, todos eles, bens de consumo adquiríveis.

E o futuro das relações afetivas? Tudo indica que o romantismo não existirá. Ele fracassou, criou relações doentias, passionais, obrigou as pessoas à mentira e à hipocrisia, produziu homens e mulheres frágeis, casais dependentes, utilizando um ao outro como muleta. O futuro das relações está diretamente ligado à evolução do autoconhecimento, às investigações do genoma humano, à superação das superstições: o desaparecimento da crença em Deus, em espíritos, mestres invisíveis ou naquilo que não se pode provar, enfim. Somos uma espécie animal e só, e é muito. Um observador neutro que nos tivesse estudando há milênios, saberia elaborar um gráfico de padrão de comportamento. A biologia humana, como a de qualquer espécie, é mensurável: fazemos guerra, versos, cidades, sapatos, funerais, tecnologia etc. Também faz parte do nosso repertório à criação de símbolos. Gostamos de representar e projetar. Mas, porque somos objetos e sujeitos, vivemos essa mitologia sem nos dar conta. O ser humano do futuro dominará as informações sobre si mesmo, como hoje cataloga o comportamento de uma galinha ou de uma formiga. No âmbito das sensações do afeto, isso significará relações moldadas na racionalidade. A amizade será entendida como uma ilusão da mente. Os casais não residirão sob um mesmo teto (porque isso é uma das maiores loucuras já instituídas). Ninguém sustentará ninguém e os filhos serão responsabilidade coletiva.

Quanto ao sexo, será preferível realizá-lo com andróides. Hoje, já encontramos no mercado bonecas excepcionais, as chamadas Real Doll, quase idênticas às mulheres de verdade. Nos próximos anos, essas bonecas serão incrementadas pela tecnologia robótica, poderão falar e fazer algumas atividades domésticas básicas. Serão amantes perfeitas. Pois elas são lindas e possuem tudo o que um homem pode querer de uma mulher.

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